Concert in Barcelona

It was in a night menacing rain that the high point of my peregrination was given: my first concert of the Madredeus. In the gorgeous enclosure of the El Grec - an amphitheater in the ancient Roman style, encircled by vegetation that gives to the enclosure a bucholic atmosphere - that I attended, together with about 1500 people, to one of the most impressive concerts from the artistic and emotional points of view. Witness of that could have been the half dozen people that I saw drying their tears at the end of the show. The enclosure opened to the input of the public at 22:00 e, in half an hour it got completely full. By the way, the only vacant places that I could see were exactly behind me. The show was initiated with the entrance of the musicians on the stage, strongly applauded. They started by playing the first chords of "O Mar" and then Teresa Salgueiro approached the microphone to start singing. It was a soft, calm beginning, a balm on a wound. When she arrived at her place she gave immediately voice and body to the Dream which was beginning. Since from the first song the audience received Madredeus with enthusiasm, even when there were new songs to be included in the next album of originals. In the new songs the reception was very good and especially enthusiastic in the songs that, at a first listening, had seemed extraordinarily beautiful.
The second song was "Vem". In this concert had been only played, apart the new ones, songs from the last three albums of originals. The fact that the concert started with two songs from "O Espirito da Paz" and the fact that they have ignored the first works of the band shows, in my opinion the will of not wanting to go to the past. A concentration on the navigation in the wider seas that started to be explored with "O Espirito da Paz" . The first works had shown a part of Madredeus which was much more seated on the portuguese popular tradition. But Madredeus decided not to be just portuguese musicians but universal musicians. And this desire took form in "O Espirito da Paz". The cover of that album explains everything: a group of musician leaving for... the world. The music of Madredeus today is much varied, with diverse colors and tonalities, more imagination and maturity. Musics have, however, something in common which enriches its variety.

For me, it was an honor to see a band so genuinly Portuguese to be received so enthusiastically from a non-portuguese people - a sign that the music of Madredeus, even if sung in portuguese (or maybe also for that reason) it is capable to give emotions in a very special and deep way to all the people of the world.
After "Vem", a series of new songs that had occupied most of the concert had followed. For a fan of Madredeus these new songs have something of really new, mainly at the level of the styles, of the thematic and of the atmospheres composing them. However, the style of Teresa Salgueiro is unchanged and she does not seem to have made great changes in her singing style. The only song where an innovative performance, artistical or technical, can be seen in "Oxalá".
Apart of that one there are two or three new songs which appeared to be slightly repetitive.

In these new songs new paths are uncovered, which are no more than one more face of a diamond. And all of its faces are made of Passion - Passion that gave to each one of these faces a very proper and unique beauty.

I was for this concert the wait to meet the divine beings that compose and plays that fabuolous music that we can hear on the albums of Madredeus, but I just met five people. Human beings, simple people, without a vain self-indulgence. But the music they played filled the air of that theater with divinity. There I understood that divinity resides in the passion, in the meeting of normal people, of people which played that music and listened to it giving to it a space in their heart.

In the middle of the show, the rain was ready to fall and to interrupt that fantastic moment, but the applauses and the heat of all the audience of the Grec succeeded in sending away the rain. The clouds had finished to pour their tears after the end of "Andorinha da Primavera". During the show, Teresa Salgueiro moved constantly on the stage. She did not limit herself to be isolated, in front of the musicians and withdrew until reached them and she sang even some songs seated next to all the musicians. She gave me the impression that she was not wanting the role of the diva of the show, but just to be seen as a member of the band and not as a first-lady accompanied by four musicians. The show ended with two encores, the last one being "Haja o que Houver", without any doubt the most enthusiastically acclaimed song, applauded by their feet by everybody.

At the end I had the sensation that the peregrination had been worth the pain: I went away richer than before, and I emotioned in a way that I didn't live for a long time. It is worth the pain to travel the kilometers which were necessary, in our soul, in our inner life, to give ouselves to the most sublime feeling. Today I feel saudade of that enclosure, that music, of those musicians, as the one who remembers the joys of a youth which has gone. But I know that I can come back and live everything again: just courage and a new opportunity is needed.

Nuno Carmona

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Foi numa noite que ameaçava chuva que se deu o ponto alto da minha peregrinação : o meu primeiro concerto dos Madredeus.

No belíssimo recinto do El Grec &150; um anfiteatro ao velho estilo romano, rodeado por uma vegetação que dá ao recinto um ambiente, no mínimo, bucólico &150; que assisti, juntamente com cerca de 1500 pessoas, a um dos concertos mais impressionantes do ponto de vista artístico e emotivo. Que o digam a meia dúzia de pessoas que reparei enxugarem as lágrimas no final da actuação.
O recinto abriu à entrada do público pelas 22:00 e, em meia hora encontrava-se praticamente lotado. Aliás, os únicos lugares vagos que pude observar encontravam-se exactamente atrás de mim. O espectáculo iniciou-se com a entrada dos músicos em palco, fortemente aplaudida. Começaram por soar os primeiros acordes de "O Mar" e a lenta aproximação de Teresa Salgueiro desde os bastidores até ao microfone. Foi uma entrada suave, serena, como o pousar de uma pena. Quando chegou ao seu lugar deu imediatamente voz e corpo ao Sonho que dava agora início. Logo a partir do primeiro tema, o público recebeu os Madredeus com entusiasmo, mesmo quando se tratavam de novos temas a incluir no próximo álbum de originais. Mesmo nos temas novos a recepção foi muito boa e especialmente entusiasta nos temas que, numa primeira audição, pareceram extraordinariamente belos.
O segundo tema foi "Vem". Neste concerto apenas foram tocados, para além das novas músicas, temas dos três últimos álbuns de originais. O facto do concerto ter começado com dois temas de "O Espírito da Paz" e de terem ignorado os primeiros trabalhos da banda mostram, na minha opinião, um desejo de não querer voltar ao passado. De se concentrarem em navegar pelos mares mais vastos que começaram a ser sulcados pela caravela "O Espírito da Paz". Os primeiros trabalhos mostraram dos Madredeus assentam mais na tradição popular portuguesa. Mas os Madredeus não quiseram ser apenas músicos de e para Portugal mas sim músicos universais. E esse desejo tomou forma em "O Espírito da Paz". A capa desse álbum diz tudo: um conjunto de músicos que parte para... o mundo. A música dos Madredeus é hoje muito mais variada, com diversas cores e tonalidades, com mais imaginação e maturidade. As músicas têm, no entanto, algo em comum que enriquece a sua variedade o espírito português.

Para mim, foi uma honra ver uma banda tão genuinamente portuguesa ser recebida tão entusiasticamente por um povo não português &150; sinal de que a música dos Madredeus, apesar de cantada em português (e talvez por isso mesmo) é capaz de entusiasmar de uma forma muito especial e marcante, as gentes de todo o mundo.
Depois de "Vem", seguiram-se uma série de temas novos que ocuparam a maior parte do concerto.
Para um fã de Madredeus estes novos temas têm algo de realmente novo, principalmente ao nível dos estilos, ambientes e temáticas que os compõem. No entanto, o estilo de Teresa Salgueiro mantém-se inalterado e não parecem haver grandes mudanças no seu estilo de cantar. O único tema em que se observa um desempenho inovador, quer a nível técnico quer artístico, é "Oxalá". Para além disso há dois ou três temas novos que soaram repetitivos.
Nestas novas canções descobrem-se novos caminhos, que mais não são do que mais uma face de um diamante. E todas as suas faces são lapidadas pela Paixão - Paixão que deu a cada uma dessas faces uma beleza muito própria, única.

Fui para este concerto à espera de encontrar os seres divinos que compõem e executam a música fabulosa que se pode ouvir nos álbuns dos Madredeus, mas acabei por encontrar 5 pessoas. Pessoas humanas, simples e sem grandeza. Mas a música que tocaram encheu de divindade o ar daquele teatro. Aí dei-me conta de que afinal a divindade reside na paixão, na entrega das pessoas normais, das pessoas que tocaram aquela música e as que a ouviram e deram espaço no coração ao divino nela existente.

A meio da actuação, a chuva esteve prestes a cair e a interromper aquele momento tão fantástico, mas os aplausos e o calor de todos os presentes no Grec conseguiram afastar a chuva. As nuvens acabaram por conter as suas lágrimas depois de terminado "Andorinha da Primavera".


Durante a actuação, Teresa Salgueiro mudou constantemente de posição em palco. Não se limitou a ficar isolada, à frente dos músicos e recuou até junto deles e chegou mesmo a cantar algumas canções sentada junto de todos os músicos. Deu-me a impressão que ela não quis ter um papel de protagonismo na actuação e ser olhada como mais um membro da banda e não como uma prima-donna que se faz acompanhar de 4 músicos.
O espectáculo contou com dois encores, sendo o último apenas para cantar "Haja o Que Houver", sem dúvida o mais bem acolhido pelo público nessa noite, que o aplaudiu de pé e em euforia.

No final ficou a sensação de que a peregrinação valera a pena : saí mais rico, voltei a emocionar-me como há muito não acontecia. Vale a pena percorrer os quilómetros que forem necessários, na nossa alma, no nosso interior, para nos rendermos ao sentimento mais sublime.

Hoje sinto saudades daquele recinto, daquela música, daqueles músicos, como quem lembra as alegrias de uma juventude há muito ida. Mas sei que posso lá voltar e reviver tudo de novo : basta coragem e uma nova oportunidade.

Nuno Carmona

   

 

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Madredeus - O Porto