The New Era

 



A song, as Pedro Ayres likes to remember, signs a particular moment.
A song is also an act of culture. Of which culture? The academics thinkers enstablished a distinction between the "high and low" culture, together with distinct and well thought arguments. In the meantime, when we consider culture in its daily, popular meaning, we use other criteria - normally the ones which allows us to distinguish between "good" or "bad" culture.
But it will be "good" or "bad" in relation to what? We advanced the hypothesis that the popular culture - and the popular music which is, under many aspects, its most visible and industrious face - is good when it is "adequate" to ours daily standards of the experience and to our conscience of the world; it is bad when its use do not cause any significant alteration in one or another of these objectives. In that place the political meaning of popular culture is rooted, and a great part of its importance - in this collective sharing of some values and of a common sense, and in the awakening of the communication among the beings, which is one of the most ancient and recognized benefits of the musical art.
In this renewed formation, the songs of Madredeus have this same ambition, and this attitude. They correspond, says Pedro Ayres "to a period, to a collective feeling, to a message which has been produced in the same period, or to the use of some determined materials". And also correspond to a public, clear, nitid declaration of intentions. Now. By reflecting again a certain national patrimony - or some "poetical attitudes of the portuguese popular songs" - they achieve an adequationto a certain family of planetary voices. They were recorded in Venice, an ancient and cosmopolitan city, a place where reality and imagination mix themselves at each step. They are songs that talk about our epoch in the world, about the things which are present and absent from it; what we have and what we should have; where we are and where we could go. As all art, this sonorous movements and these lyrics, which are gestures, try to achieve with they own forces the most distant and chimeric objective. A great chord. A unanimous choir. A conscience of time which can be trasmitted over time, but which can be recreated every day - but only if we want to sing.

Jorge P. Pires


(portuguese version)

Uma canção, como Pedro Ayres Magalhães gosta de recordar , assinala um momento particular.
Uma canção é também um acto de cultura. De que cultura ? Os pensadores académicos habituaram-nos a estabelecer uma distinção entre a cultura "alta e baixa", de acordo com distintos e bem elaborados argumentos. E no entanto, quando encaramos a cultura no seu sentido vivencial, quotidiano, popular, utilizamos outros critérios &150; normalmente os que nos permitam distinguir se ela é "boa" ou "má".
Mas, será "boa" ou "má" em relação a quê ? Avancemos uma hipótese, a de que a cultura popular &150; e a música popular, que é, sob diversos aspectos, a sua face mais visível e industriosa &150; se revela boa quando é "adequada" aos nossos padrões de vivência do quotidiano e à consciência que temos do mundo; e má, quando do seu consumo não resulta qualquer alteração significativa em um ou outro desses objectivos. Aí radica o sentido político da cultura popular, e boa parte da sua importância &150; nessa partilha colectiva de alguns valores e de um sentido comum, e no despertar da convivialidade entre os seres, que é um dos mais antigos e reconhecidos benefícios da prática musical.
Nesta sua renovada formação, as canções dos Madredeus têm essa mesma ambição, e essa atitude. Correspondem, diz Pedro Ayres "a um período, a um sentido colectivo, a um discurso produzido na mesma época, ou ao uso de determinados materiais". E também a uma tomada de posição, pública, clara, nítida. Agora. Reflectindo ainda um certo património nacional &150; ou determinadas "atitudes poéticas da canção popular portuguesa" &150; elas procuram também a sua adequação a uma certa família de vozes planetárias. Foram gravadas em Veneza, uma cidade antiga e cosmopolita, lugar onde o real e o imaginário se confundem a cada passo. São canções que falam da nossa época no mundo, do que nela está presente e ausente; o que temos e o que deveríamos ter; onde estamos e para onde poderemos dirigir-nos. Como toda a arte, também esses movimentos sonoros e estas palavras, que são gestos, procuram atingir pelos seus próprios meios o objecto mais longínquo e quimérico. Um grande acorde. Um coro unânime. Um conhecimento do tempo que se transmita através do tempo, mas que possa ser reecriado a cada dia &150; sempre que nos apetecer cantar.

Jorge P. Pires



   

Index
Madredeus - O Porto

Click Here!