Pedro Ayres about Antologia
Following the edition of an anthology from Madredeus, the architect of the greatest portuguese music band outside Portugal&146;s boundaries, speaks about his continuous passion for music and his wish : that Portugal hears more his songs.
Ayres da sua graça (1)
Born in Lisbon, Pedro Ayres Magalhães is a musician. Creates, plays music all over the world and dreams about changing it. With Lisbon in the background, the man who idealised Madredeus, confesses he hates the epithet of Portugal&146;s "ambassador"; don&146;t ask him "to make tours in the United States" ; he wants his songs to be known by more people. From Graça, the city has other colours. Even more when afternoon comes at the table of an esplanade. There&146;s where we met Pedro Ayres Magalhães. In a conversation accompanied by the mathematical ringing of the bell of the Convento da Graça - still in - remodelment &150; the composer speaks in the first person :
"Since very early, my fantasy was traveling all around the world and playing songs. When the 1974 revolution happened, I quitted the Colégio Militar (Military School) &150; just a coincidence &150; and in my life ... everything was possible. I started putting bands together, making groups, which was a ‘cyclopic&146; task" he says. After some bands, he starts "Heróis do Mar", his first major success. "Our idea was playing concerts everywhere, with ideological messages about Portugal". In 1987 Madredeus came up. Both project lived together through almost three years, but the option had to be made. "The idea of making Madredeus came up in order to allow me playing guitar, which is what I really like to do. My desire was to bring music to the castles, the theatres, the monuments and to the gardens. There was no such habit in Portugal.". He continues: "We had to make a band that fitted Teresa&146;s voice". The band passed from twenty concerts, in the first year, to one hundred concerts in the middle nineties. In the early nineties Madredeus starts his internationalisation and they&146;re now the most successful portuguese band in the worldwide market. "We knew how to evolve. That is the secret of our success. That, and the dedication of the eight people that became part of this band and the passion for this opportunity of having the whole world as our public". In their travels, Madredeus are globetrotters and they found that Portugal isn&146;t unknown by the people abroad. " People we found in Japan or Italy know about our country, the ‘Descobrimentos&146; and our music. I just don´t want people to say we are ambassadors" he guarantees. Despite the 70 thousand copies per album sold by Madredeus, in Portugal, and the doors that have being opened as they reached new levels of success, the support from their homeland isn´t as big as we could expect.
"This country could have enjoyed his music much more... because there&146;s lots of it, but people don&146;t hear it nor play it very much". Singing in portuguese? No doubt about it. That&146;s one of the childhood dreams: that one day portuguese music will play a role it doesn&146;t play in today&146;s Portugal. "That&146;s my innocence. I have a sort of inner country inside of me".
Without abandoning Madredeus, Pedro Ayres Magalhães was one of the Resistência project founders. Together with Fernando Cunha, Miguel Ângelo, Tim and Olavo Bilac, he brought portuguese bands to a larger audience. "Those times were fantastic" he remembers at the same time as he excludes the possibility of a return to the project - the musicians agenda doesn&146;t allow it.
Of the audiences he helps to enchant, Mexicans are "the most incredible ones. They have their own music, they are always listening to it and applaud whenever they like it. They don&146;t care about Teresa&146;s dress or if I&146;m fatter, as it happens here" he criticises. "I would like people to discuss more about music. I&146;m famous but most of my songs aren&146;t. And they don&146;t bore them or offend them". In the United States, the concerts don&146;t go very well. "They don&146;t live. Each one does what they have to do and leave. We don&146;t talk with the public and neither with the organisers of the events. And we better not talk about the food they provide us."
Madredeus&146;s ‘Antologia&146; was launched on Wednesday. There are 15 songs, from all the band&146;s albums plus two unreleased songs: "Oxalá" and "As Brumas do Futuro". The first time you hear "Oxalá" you&146;ll feel it jazzy, but Teresa&146;s voice brings everything to its place. It&146;s a different approach in style they already tried in previous albums. It has to do with the influences of travelling. In the second unreleased song, the main song of the film "Capitães de Abril", Madredeus sing about something concrete, for the first time. "We lived 15 years of subjective things, words, intuitions and feelings. It has nothing to do with our style. This phase on our career is fantastic, but we want to reach the 10 million portuguese people that only know ‘A Vaca de Fogo&146;. Everyone knows Madredeus is a portuguese group and that it has a female singer. That isn&146;t much."
This ‘best of&146; happened by suggestion of the EMI label. It will be released in 26 countries and the cover, after 15 years, it&146;s like the foto from the ‘true artists&146;. We&146;re all there We are heroes because what we have passed through, for all the sacrifices, for the planes we flew in. This is worse than the army. It&146;s a life."(1) It´s a nice game of words : it mixes the expression "Ares da sua Graça" - wich is used when someone keeps in the shadow for some time and suddenly appears and talks to us &150; and also refers to the fact that this interviews occurred in Graça (a Lisbon&146;s quarter) where Pedro has his home.
Interview by Margarida Marante
from the magazine "Diario de Noticias"approximate translation by Corvinus
«A propósito da edição de uma Antologia dos Madredeus, o ideólogo da maior banda portuguesa no estrangeiro, fala da sua paixão contínua pela música e do desejo que sente que em Portugal se ouvissem mais as suas canções.
Ayres de sua graça
Alfacinha de gema, Pedro Ayres Magalhães é músico. Cria, toca um pouco por todo o Mundo e sonha em mudá-lo. Com Lisboa por fundo, o homem que idealizou os Madredeus, confessa-se: detesta o epíteto de "embaixador" de Portugal, não lhe peçam "para fazer tournées no Estados Unidos" e quer as suas músicas "sejam mais conhecidas". Da Graça, a cidade tem outras cores. E mais ainda ao entardecer, na mesa de uma esplanada. Foi aqui que nos encontrámos com Pedro Ayres Magalhães. Numa conversa pautada pelo toque matemático do sino do Convento da Graça - ainda em remodelações - o compositor fala na primeira pessoa.
"Desde muito cedo que a minha fantasia foi a de viajar pelo mundo inteiro e tocar canções. Com a revolução de 1974, saí do Colégio Militar - foi uma coincidência - e tudo ficou em aberto. Comecei a fazer bandas, a construir grupos, o que foi uma tarefa ciclópica"ironiza. De banda em banda até que surgem os Heróis do Mar, o primeiro caso de sucesso. "A nossa ideia era fazer concertos em todos os sítios, com mensagens de idealismo sobre Portugal". Em 1987 surgem os Madredeus. Os dois projectos ainda subsistiram em simultâneo durante quase três anos, mas a opção teve que ser feita. "A ideia de criar os Madredeus surgiu para eu poder tocar guitarra, fazer aquilo de que gosto" conta-nos ao ritmo do martelar constante das obras no Convento. "O desejo era o de levar a música aos castelos, aos teatros, monumentos e jardins. Não havia esse costume em Portugal". E continua: "tínhamos que fazer um grupo que se adaptasse à voz da Teresa".
Depois de nos primeiros tempos o grupo realizar vinte concertos por ano, em meados da década de noventa esse número subiu para os cem. E começa a internacionalização dos Madredeus, a banda portuguesa com mais sucesso no mercado mundial. Envolvido pelo chilrear stressante dos passáros, o autor desabafa:"Soubemos evoluir. Esse é o grande segredo do nosso sucesso. Isso, a dedicação das oito pessoas que já estiveram no grupo e a paixão por esta oportunidade de ter como público o mundo inteiro". Nas viagens que fazem, os Madredeus são "globetrotters"e afinal Portugal não é assim tão desconhecido.
"As pessoas com quem nos cruzamos no Japão ou na Itália conhecem o país, os Descobrimentos e a nossa música. Não quero é que digam que somos embaixadores" garante. É que apesar dos 70 mil exemplares vendidos por álbum, em Portugal, e das portas abertas à medida que vão tendo sucesso, os apoios por cá não são assim tantos. "Este país podia ter gozado mais a música, porque existe muita, não é muito ouvida nem tocada e podia sê-lo".
Cantar em português, sem dúvida. Esse é mais um sonho de infância, que a música nacional tenha o papel que ainda não tem na sociedade portuguesa. "Essa é a minha inocência. Tenho uma espécie de país interior dentro de mim."
Sem abandonar os Madredeus, Pedro Ayres Magalhães foi também um dos mentores do projecto Resistência. Com Fernando Cunha, Miguel Ângelo, Tim e Olavo Bilac, deu origem a que as bandas portuguesas tivessem mais público a ouvi-las. "Essa altura foi fantástica" recorda, ao mesmo tempo que põe de parte um regresso do projecto - a agenda dos vários músicos não o permite. Dos públicos que tem encantado, o do México "é o mais incrível. Eles têm a sua música, estão sempre a ouvi-la e aplaudem quando gostam. Não lhes interessa o vestido da Teresa ou se eu estou mais gordo, como acontece por cá" lança para a fogueira em jeito de crítica. "Gostava que as músicas fossem mais tema de conversa entre as pessoas. Eu sou conhecido, mas as minhas canções ainda não são todas. E elas não enfadam as pessoas nem as agridem". Nos Estados Unidos é que os concertos não correm tão bem. "Eles não vivem. Cada um faz o que tem a fazer e vai-se embora. Não falamos com o público nem com os organizadores. Já para não falar na comida que nos servem".
Na quarta-feira foi lançada a "Antologia" dos Madredeus. São 15 músicas, de todos os álbuns do grupo, com dois inéditos: "Oxalá" e "As brumas do futuro". Na primeira vez que se ouve "Oxalá"a sensação de jazz é óbvia, mas a voz de Teresa Salgueiro não engana. É um estilo diferente mas já tentado noutros álbuns do grupo. São as influências de quem anda na estrada. No segundo inédito, tema do filme "Capitães de Abril", pela primeira vez os Madredeus falam de alguma coisa objectiva. "São 15 anos de coisas subjectivas, de palavras, de intuições e sentimentos. Não tem nada a ver com o nosso estilo. Esta fase é extraordinária, mas agora queremos chegar aos 10 milhões de portugueses que só conhecem a 'Vaca de Fogo'. Toda a gente sabe que Madredeus é um grupo português e tem uma cantora. Isso é muito pouco".
Este 'best of' surge por sugestão da editora, a EMI. Sai em 26 países e a capa, ao fim de 15 anos, é com a foto dos verdadeiros artistas. "Estamos lá todos. Somos uns heróis pelo que passámos, pelos sacrifícios, pelos aviões que apanhámos. É pior que a tropa. É uma vida". »Interview by Margarida Marante
from the magazine "Diario de Noticias"
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Madredeus - O Porto
